Pra ser sincero, que ano triste tem se mostrado esse 2014. Ano em que sofri a perda de amigos próximos e pessoas tão admiráveis que, mesmo sem ter conhecido pessoalmente, me sentia próximo. E uma delas foi Roberto Gomez Bolaños, o Chaves. O Chapolin. O doutor Chapatin.
Se por um lado o jeito Silvio Santos de comandar o SBT sempre inibiu credibilidade do canal, com tantas mudanças na grade dos programas, por outro lado foi esse mesmo comportamento que fez uma, duas, três (quatro ?) gerações acompanharem Chaves e as demais esquetes do comediante a exaustão numa era pré-internet, Youtube e Netflix.
Muitos teorizam por que Chaves e Chapolin alcançaram tamanho sucesso no país e entre os tantos argumentos considero os mais assertivos os seguintes:
1 – A dublagem: talvez o mais importante; do que adianta um roteiro e atores de primeira se o que chega na TV aberta tem vozes que destoam. Chaves sempre foi excelência nisso com as risadas do Quico ou a malandragem do Seu Madruga carregada nos trejeitos e voz.
2 – A simplicidade: marca registrada da série, Chaves e Chapolin sempre trouxeram piadas simples, às vezes com profundidade maior que teses filosóficas (nesse ponto se assemelha muito a Família Dinossauro). Por isso, rir várias e várias vezes, anos a fio, com o mesmo diálogo sempre foi possível. Seja criança, seja adulto.
3 – A empatia com o público: criadas na década de 70 os roteiros das séries sempre brincaram ironicamente com situação de terceiro mundo da América Latina. Os personagens sempre foram claros: o devedor, o menino de rua e o herói fraco, burro mas muito corajoso (Chapolin) serviram para aproximar o público do contexto. Se admiramos Batmans e Supermans num universo e aura de superioridade improvável é com a Turma da Vila que nos identificamos e, por isso, rimos.
4 – *Cultura, sem fronteiras: Embora siga os preceitos do item anterior, vale menção especial. Chaves e Chapolin trouxeram histórias e temas que quando criança não compreendíamos (talvez até hoje, não). Foi só depois de vários anos que compreendi que ao assistir os episódios apreendia sobre as navegações de Cristovão Colombo, a descoberta da América, os clássicos de Hollywood como Dançando na Chuva ou a clássica obra ‘Fausto’ do escritor alemão Goethe (o chirrin-chirrion do Diabo).
A morte de Bolaños gerou tanta repercussão que foi inevitável pensar e escolher o melhor episódio de Chaves. A viagem a Acupulco certamente foi o mais emblemático por ser o mais diferente, mas o melhor, mais afinado nas piadas e atuações e meu favorito é esse do vídeo abaixo (menções honrosas para o Julgamento do Chaves e àquele que os móveis do Seu Madruga vão para o meio da vila):
E aí, qual o seu favorito ?
Para concluir: se iniciei o post falando do ano triste, sejamos honestos: são em infortúnios que refletimos e paramos para agradecer o que temos. Sobre este cidadão mexicano, fica o legado e o muito obrigado pelos (vários) momentos felizes proporcionados.