Consequência sem causa fácil de encontrar

A qualidade dos arranjos e sinfonias de Beethoven são uma unanimidade passados 250 anos de seu nascimento. Se ele é o símbolo do conceito “música clássica” nos dias atuais, sua popularidade sempre vem acompanhada da história de sua surdez e da vida difícil. Mas isto tudo já é fato histórico, atemporal. No entanto, uma das vertentes menos conhecidas da sua história e que pode (deve, na minha opinião) ser estendida a todas as vidas humanas é a capacidade de desempenhar papeis e concluir obras que destoam de uma tentadora conclusão lógica: produzimos e entregamos ao mundo aquilo que temos em nossa realidade.

Como exemplo, Beethoven, de vida difícil pela incapacidade auditiva precoce, infortúnios em relacionamentos amorosos e grandes tribulações familiares é o típico exemplo de um preconceito quase coletivo atualmente: o de que suas obras expressavam todas estas mazelas e dificuldades da sua vida. O erro deste enunciado reside no fato de que ao mesmo tempo em que compunha as sinfonias de caráter mais sombrios também compunha as mais alegres, que na onda do preconceito supracitado, não fariam sentido com a vida pessoal. Gênio? Certamente. Mas esta característica se estende a todos nós, que podemos produzir grandes obras que se dissociam da condição mais superficial de quem somos ou onde estamos, como as condições de posse material/econômicas, de saúde, de cansaço, de tragédias pessoais ou de alegrias pessoais. Mais do que isso tudo, há uma camada mais inerte e profunda que nos faz entregar ao mundo realizações – independente da forma – que podem não parecer fazer sentido a um olhar pouco atento. De onde vem a fonte de cada sentimento posto em forma de realização? Ou, melhor, somos tão escravos de sentimentos para poder pôr em prática nossas faculdades? As respostas à essas questões continuam em ebulição na minha mente; primordial mesmo é se libertar desta visão míope de causa e consequência.

15 segundos de chiado

Num vídeo recente do canal Meteoro (https://www.youtube.com/watch?v=PxFAiejrHBM) em meio a um resgate das três principais distopias do século passado (Admirável Mundo Novo, 1974 e Fahrenheit 451) certo assunto surge como ponto de reflexão: a comunicação mais visual do que escrita e os emojis como peça simbólica do nosso tempo. Embora não se estenda em explicar ou dissecar o tema, o vídeo termina e as questões brotam na mente em frente a uma tela preta.</p> vídeo recente do canal Meteoro em meio a um resgate das três principais distopias do século passado (Admirável Mundo Novo, 1984 e Fahrenheit 451) certo assunto surge como ponto de reflexão: a comunicação mais visual do que escrita e os emojis como peça simbólica do nosso tempo. Embora não se estenda em explicar ou dissecar o tema, o vídeo termina e as questões brotam na mente em frente a uma tela preta.

Sem a pretensão de cientificar algo muito mais profundo do que poucos parágrafos escritos numa manhã de inverno com sol, as imagens (e vídeos) são peças fundamentais da nossa cultura, porém entre tantos efeitos colaterais o mais grave é nos levar por um caminho de imediatismo ou superficialidade.

Os 15 segundos iniciais padrão de apenas chiados no início de um LP, o vinil, hoje são no máximo, nostalgia momentânea, mas geralmente acompanhados de uma inquietação e senso de urgência pelo que virá a seguir e também contemplações não entendíveis num 2020 como “Por que colocar trecho sem música num disco?”. Qual a razão? Perguntamos tanto isso como sociedade que a vida tem momentos de contemplação mais breves, despercebidos às vezes e, como provoca o vídeo do Meteoro, expressos por um simples emojis. Feliz, triste, engraçado. Tudo é simples na linguagem visual. Mas a simplicidade não nos tornou mais ágeis ou práticos como fomos ensinados a crer e sim, mais superficiais. O quanto a mais você descobre do seu mundo se emojis darem lugar a pensamentos complexos e à observação daquilo que nos rodeia?

Conceito

Conceito é uma palavra que traduz uma ideia. Uma ideia inteira que então fica “presa” a algumas letras, que pode ser colocada em frases, conversas, músicas ou camisetas. Quando paramos para pensar em como esse lado angustiante da linguagem é tão limitador, em especial, ideias mais belas por natureza parecem as mais prejudicadas. Como disse Oscar Wilde “definir é limitar”. Então, se não nos escapamos de criar e popularizar conceitos, que o façamos não como quem reza um Pai Nosso sem se dar por conta do que fala e sim, como quando se demora uma eternidade para ler um parágrafo justamente porque por trás de cada palavra há uma ideia e, normalmente, uma história. Ao nos depararmos com alguma placa com dizeres fora do comum em locais públicos (“não alimente os jacarés”, “antes de entrar no elevador certifique-se de que ele realmente está no andar”) logo imaginamos que toda placa tem uma história que levou ela a ser colocada lá. Assim são as palavras. Todas.

Talvez o mais divisivo e explorado conceito da história humana é o da felicidade. Sem pretensão alguma de querer definir algo que sempre soubemos mais sentir do que quantificar é bom conhecer o que já foi dito sobre o assunto. Um  bom começo é o vídeo do professor e palestrante Clóvis de Barros Filho que, em 34 minutos, aborda de uma forma leve as caracterizações desse conceito através dos olhos de Aristóteles, Jesus e Espinoza.

 

Ainda, o aspecto mais fascinante deste vídeo na minha opinião é a revolução que Jesus trouxe com sua ideia de felicidade. Algo que, seja você cristão, ateu ou religioso de qualquer tipo de espiritualidade, há de se admitir que foi único e dividiu o mundo de forma muito mais importante que o calendário (a.c./d.c.), pois foi pela primeira vez (documentada) os ideais de amor fraterno entre todos como felicidade foram tão bem pontuados. A este, a chamada Oração de São Francisco, é a síntese da filosofia mais pura sobre o que pode ser o conceito de felicidade.

Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado
Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois, é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado;
E morrendo que se vive
Para a vida eterna

Vem pra rua ?

Na nossa humilde e falha condição humana tendemos a cunhar mais valor a ideias e discursos embasados por citações de ilustres personas. Mesmo que muitas vezes totalmente fora de contexto, as citações conferem brilho a discursos que enxergaríamos como “pobres” sem elas. Deste modo, por exemplo, pastores, padres e ateus citam os mesmos versículos bíblicos para argumentar ideias opostas. Mais recentemente, filósofos já falecidos são lembrados (especialmente em redes sociais) para justificar o cenário político nacional e as ações que devem ser tomadas.

Um exemplo desses é Martin Luther King e sua frase de que “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. A forte e contundente afirmação forte nos chama a opinar, nos posicionar. Embora ficar a parte de qualquer discussão possa ser a solução mais cômoda e conveniente para ficar “de bem” com qualquer um dos (diversos) lados que sair “vencedor” é um desperdício de vida apenas assisti-la. Por isso, nesse momento de enorme ebulição na nossa política, com protestos nas ruas, atenção midiática pelos desdobramentos em Brasília, parece me óbvio o quadro patético da nossa estrutura política: situação e oposição com preocupações apenas consigo mesmo, isto é, com (e em como) ter o poder para si. Assim, milhões vão as ruas em posições opostas, querendo melhores condições sociais e econômicas, mas antes de tudo, como peões no tabuleiro dos caciques políticos.

Com grande dificuldade por não saber dialogar e imensa falta de carisma, Dilma vem fazendo uma péssima gestão no Poder Executivo. Daquelas que se fosse numa empresa do setor privado, já estaria no mercado de trabalho procurando emprego. Mas, em um país não é assim. A constância de seus governantes é um dos principais elementos de soberania nacional. Dito isso, os avanços (sociais) do governo Lula ficaram pequenos para a sede de poder traduzida em corrupção que o PT teve ao assumir o poder em 2003. Vinculado a um estandarte antigo de ser “diferente” trilhou os mesmos caminhos de seus antecessores no assunto corrupção.

Por isso, é difícil, na minha opinião, imaginar que um impeachment, ou mecanismo de igual efeito tenha impacto de realmente mudar algo drasticamente. A estrutura é a mesma e os vícios são conhecidos. Sair às ruas revela o descontentamento, a desilusão, a sede de mudança. Mas não o compromisso de mudar. Dilma, Lula, Aécio, Serra, Temer, Renan e Cunha  – só para citar alguns. Alguém realmente acredita que a mudança virá da mão, mente e “bolso” de um deles? Eu não.

Porém, se conscientes e céticos quanto a isso, soubermos entender e nos contentar com breves períodos de euforia (em 2010-11 o grito de oposição a Lula era abafado pelo crescimento econômico – ilusório a médio prazo) vale a pena ir as ruas e defender nossa posição, nem que seja pelo “último gás da Coca”.

O que é arte ?

Se a resposta pode ser complexa, fácil ė perceber que ela se “esconde” nos lugares mais improváveis, como, por exemplo, na peculiar combinação entre uma música velha do Elton John na voz de uma cantora que ainda não mostrou a que veio para um comercial da KFC dos frangos fritos, que é, sem dúvida, um dos comerciais mais bonitos desta década.

Nova editora do blog !

Pra ser sincero, esse blog ganhou um grande reforço. A partir de hoje, temos uma editora para contribuir com os posts e com a qualidade do blog.

Seja bem vinda, Carolina! 

Mais informações sobre a Carol vocês encontram na seção “Quem ?” (à esquerda) do blog.

*Então, quando observarem um “Pra ser sincera” no início de um post, saibam que é essa adorável e inteligente voz feminina da nossa editora Carolina que vos fala.

Ricardo.