Na nossa humilde e falha condição humana tendemos a cunhar mais valor a ideias e discursos embasados por citações de ilustres personas. Mesmo que muitas vezes totalmente fora de contexto, as citações conferem brilho a discursos que enxergaríamos como “pobres” sem elas. Deste modo, por exemplo, pastores, padres e ateus citam os mesmos versículos bíblicos para argumentar ideias opostas. Mais recentemente, filósofos já falecidos são lembrados (especialmente em redes sociais) para justificar o cenário político nacional e as ações que devem ser tomadas.
Um exemplo desses é Martin Luther King e sua frase de que “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. A forte e contundente afirmação forte nos chama a opinar, nos posicionar. Embora ficar a parte de qualquer discussão possa ser a solução mais cômoda e conveniente para ficar “de bem” com qualquer um dos (diversos) lados que sair “vencedor” é um desperdício de vida apenas assisti-la. Por isso, nesse momento de enorme ebulição na nossa política, com protestos nas ruas, atenção midiática pelos desdobramentos em Brasília, parece me óbvio o quadro patético da nossa estrutura política: situação e oposição com preocupações apenas consigo mesmo, isto é, com (e em como) ter o poder para si. Assim, milhões vão as ruas em posições opostas, querendo melhores condições sociais e econômicas, mas antes de tudo, como peões no tabuleiro dos caciques políticos.
Com grande dificuldade por não saber dialogar e imensa falta de carisma, Dilma vem fazendo uma péssima gestão no Poder Executivo. Daquelas que se fosse numa empresa do setor privado, já estaria no mercado de trabalho procurando emprego. Mas, em um país não é assim. A constância de seus governantes é um dos principais elementos de soberania nacional. Dito isso, os avanços (sociais) do governo Lula ficaram pequenos para a sede de poder traduzida em corrupção que o PT teve ao assumir o poder em 2003. Vinculado a um estandarte antigo de ser “diferente” trilhou os mesmos caminhos de seus antecessores no assunto corrupção.
Por isso, é difícil, na minha opinião, imaginar que um impeachment, ou mecanismo de igual efeito tenha impacto de realmente mudar algo drasticamente. A estrutura é a mesma e os vícios são conhecidos. Sair às ruas revela o descontentamento, a desilusão, a sede de mudança. Mas não o compromisso de mudar. Dilma, Lula, Aécio, Serra, Temer, Renan e Cunha – só para citar alguns. Alguém realmente acredita que a mudança virá da mão, mente e “bolso” de um deles? Eu não.
Porém, se conscientes e céticos quanto a isso, soubermos entender e nos contentar com breves períodos de euforia (em 2010-11 o grito de oposição a Lula era abafado pelo crescimento econômico – ilusório a médio prazo) vale a pena ir as ruas e defender nossa posição, nem que seja pelo “último gás da Coca”.