Nesta temporada 2016 do cinema, que formalmente se encerra no domingo com a cerimônia do Oscar, é inegável que o mundo cinematográfico mudou e evoluiu. Não somente – mas inclusive – Hollywood, chegou a um estágio da produção de vários BONS filmes. Filmes com uma história sem grandes problemas, atuações dentro da média e apelos visuais e emocionais com algumas boas histórias – muitas baseadas em fatos reais. Se isso tudo soa bem aparentemente, após alguns exemplares de obras dessa magnitude percebemos que essa “fórmula” do filme bem acabado enrolado em papel de presente é cansativa. O filme termina e em poucos minutos ou no dia seguinte, ele se perdeu entre tantos outros num lugar comum.
Há muito tempo eu não via uma lista de indicados ao Oscar de Melhor Filme sem apontar um – ou mais filmes – como “ruins” numa análise mais sucinta e pouco recomendada. Embora eu tenha algumas restrições com o indicado Estrelas Além do Tempo deste ano, para mim é inegável que os 9 filmes indicados possuem um refinamento compatível com um “padrão mínimo” de qualidade. Mas, se quem ganha com isso são (ou deveria ser) os estúdios e cinemas com uma hipotética maior facilidade de comercializar os filmes, tem alguém que perde? Na minha opinião, sim, mas depende de como você se enquadra no quesito APRECIADOR-DE-FILMES. A significância do filme para cada pessoa é muito subjetiva (arte, não é mesmo?) e varia conforme inúmeros fatores, mas as probabilidades que um filme limitado em entregar uma fórmula pronta/pouco ousada e bem produzida oferece tendem a ser baixas.
Por isso tudo, a minha lista dos favoritos deste ano destoa na sua ordenação de muitos dos prêmios concedidos, pois embora alguns filmes destes ranqueados por mim apresentem alguns pontuais defeitos, como o momento “quase-vergonha-alheia” de Capitão Fantástico com “Sweet Child’o Mine” ou o moralismo de Mel Gibson de Até o Último Homem, todos esses e a maior parte dos meus favoritos fazem parte daquele grupo de filmes que te deixam a pensar por um bom tempo após os créditos finais, seja por um desconforto com o choque da temática (Moonlight ou A Criada, por exemplo) e da ambientação (The Fits) ou pela complexidade e articulação das ideias (O.J.: Made in America ou Capitão Fantástico) ou ainda por atuações magníficas, como Isabelle Hupert em Elle, atingindo o nível Daniel Day Lewis de atuação.
Ou, depois disso tudo você ainda considera que o favorito ao Oscar, La La Land: Cantando Estações (um bom filme, diga-se de passagem) terá o mesmo impacto/significado em 5 ou 10 anos? Creio que não.
Dito isso, eis os meus preferidos…
- Melhor Filme: Capitão Fantástico (Captain Fantastic);
- Melhor Diretor: Anna Rose Holmer por The Fits (The Fits);
- Melhor Ator: Casey Affleck em Manchester à Beira Mar (Manchester By The Sea);
- Melhor Atriz: Isabelle Hupert em Elle* – a melhor coisa no ano no quesito atuação!
- Melhor Ator Coadjuvante: John Goodman em Rua Cloverfield, 10 (10 Cloverfield Lane);
- Melhor Atriz Coadjuvante: Lily Gladstone em Certas Mulheres (Certain Women)* – Viola Davis é uma excelente atriz, mas não é coadjuvante em Um Limite Entre Nós (Fences);
- Melhor Filme de Animação: Moana;
- Melhor documentário: O.J.: Made in America;
- Melhor Fotografia: Docinho Americano (American Honey);
- Melhor Canção: City of Stars, La La Land: Cantando Estações (La La Land);
- Filme(s) mais superestimado(s): Zootopia (Zootopia), A Chegada (Arrival);
- Piores filmes do ano: Esquadrão Suicida (Suicide Squad), Horizonte Profundo (Deepwater Horizon);
…e o Top15 dos filmes de 2016:
15 – Animais Noturnos (Nocturnal Animals) de Tom Ford
14 – Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake) de Ken Loach
13 – A 13ª Emenda (13th) de Ava DuVernay
12 – Divinas (Divines) de Houda Benyamina
11 – Aquarius (Aquarius) de Kleber Mendonça Filho
10 – Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight) de Barry Jenkins
9 – Manchester à Beira Mar (Manchester By The Sea) de Kenneth Lonergan
8 – Toni Erdmann (Toni Erdmann) de Maren Ade
7 – A Bruxa (The Witch) de Robert Eggers
6 – O.J.: Made in America (O.J.: Made in America) de Ezra Edelman
5 – A Criada (The Handmaiden) de Park Chan-wook
4 – Até o Último Homem (Hacksaw Ridge) de Mel Gibson
3 – Rua Cloverfield, 10 (10 Cloverfiel Lane) de Dan Trachtenberg
2 – The Fits (The Fits) de Anna Rose Holmer
1 – Capitão Fantástico (Captain Fantastic) de Matt Ross