Os melhores filmes de 2023 – A Lista

What a year! 2023 já parece ter ficado para trás há tanto tempo, mas seu legado cinematográfico não. Na esteira dos Oscars, cabe uma importante constatação: de que os filmes deste último ano certamente o fazem um dos melhores em qualidade da última década. Embora premiações estejam monopolizadas por Oppenheimer, são notáveis os exemplos do cinema em seu máximo. Da cena final de Assassinos da Lua das Flores a atuação de Sandra Hüller em Anatomia de uma Queda (talvez, a melhor coisa de um ano tão bom), ou da construção de tudo que a câmera mostra em Zona de Interesse ao cinema argentino com duas obras primas (ambas com personalidade e auntenticidade); ou ainda do mestre Wim Wenders (e também de Miyazaki) teimando em não se aposentar para entregar qualidade acima da média, são só alguns exemplos de como construir uma lista dos melhores de 2023 é tarefa árdua. Por isso mesmo, o top 10 se tornou top15 nesse ano! Confira a minha lista:

15 – Barbie, de Greta Gerwig

14 – Oppenheimer, de Christopher Nolan

13 – O mal que nos Habita (Cuando acecha la maldad), de Demián Rugna

12 – Pobres Criaturas (Poor Things), de Yorgos Lanthimos

11 – Os Rejeitados (The Holdovers), de Alexander Payne

Top10

10 – O Menino e a Garça (The Boy and the Heron), de Hayao Miyazaki

9 – A Sala de Professores (Teacher’s Lounge), de Ilker Çatak

8 – Vidas Passadas (Past Lives), de Celine Song

7 – Anatomia de uma Queda (Anatomy of a Fall), de Justine Triet

6 – Monster (Kaibutsu), de Hirokazu Koreeda

5 – Os Delinquentes, de Rodrigo Moreno

4 – John Wick 4: Baba Yaga, de Chad Stahelski

3 – Zona de Interesse (Zone of Interest), de Jonathan Glazer

2 – Dias Perfeitos (Perfect Days), de Wim Wenders

1 – Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon), de Martin Scorsese

  • Melhor Filme: Assasinos da Lua das Flores
  • Melhor Diretor: Martin Scorsese  em Assassinos da Lua das Flores
  • Melhor Ator: Leonardo DiCaprio em Assassinos da Lua das Flores
  • Melhor Atriz:  Sandra Hüller em Anatomia de uma Queda
  • Melhor Ator Coadjuvante: Robert Downey Jr. em Oppenheimer
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Da’Vine Joy Randolph em Os Rejeitados
  • Melhor roteiro: Zona de Interesse
  • Melhor montagem: Os Delinquentes
  • Melhor trilha sonora: Assassinos da Lua das Flores
  • Melhor Fotografia: Oppenheimer
  • Filmes mais superestimados: Asteroid City

Os melhores filmes de 2022 – A lista

O ano de 2022 transita para o mundo do cinema como uma vasta rede de experimentos nos filmes que despontam com maior apelo para este espectador. Se a onda de super heróis parece ter atingido seu apogeu e estar em leve queda, abre-se de volta o espaço para novos (ou apenas “atualizados”) experimentos ou mercados, de um filme sul coreano que deve ser grande vencedor do Oscar (quem poderia apostar nisso antes de Parasita abrir caminho?) a outros que tinham tudo para transitar apenas em círculos cult mas que atraem grande público (“Triângulo da Tristeza” e “Aftersun”, por exemplo). No entanto, infelizmente ainda premiações deixam alguns gêneros de fora (“Não! Não Olhe!” é o melhor exemplo), mas o mercado dos distintos serviços de streaming reduz e quase anulo a validação advinda de estatuetas e prêmios. Os meus filmes preferidos de 2022 (lista abaixo), tem algo em comum: são marcados pelo desafio de contar algo novo ou de contar algo conhecido mas com um novo olhar.

10 – Living, de Oliver Hermanus

9 – Navalny, de Daniel Roher (Disponível na HBO Max)

8 – Os Fabelmans, de Steven Spielberg

7 – Nada Novo no Front (All Quiet on the Western Front), de Edward Berger (Disponível na Netflix)

6 – Marcel the Shell with Shoes On, de Dean Fleischer-Camp

5 – Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness), de Ruben Östlund (Disponível no Prime Video)

4 – Os Banshees of Inisherin, de Martin McDonagh

3 – EO, de Jerzy Skolimowski – um burro sem falas, mas mais expressivo na sua jornada que boa parte dos filmes. Sob seu olhar vemos o mundo e nos vemos também.

2 – Não! Não Olhe! (Nope), de Jordan Peele – reciclar e renovar gêneros como suspense e ficção científica sem esquecer de que acima de todas as inovações tecnológicas que cinema de 2022 pode trazer, uma boa história ainda é o mais importante. É “só isso” que Jordan Peele consegue fazer, mais uma vez, brilhantemente.

1 – Aftersun, de Charlotte Wells – (Disponível no Mubi) – um pai e uma filha em uma curta viagem de verão. Qual o impacto desses preciosos momentos na vida da filha? Como se constroem as memórias? E, mais do que tudo, elas são reais? (P.S.: recomendo a leitura da crítica do Pablo Villaça)

Um resumo dos melhores:

  • Melhor Filme: Aftersun
  • Melhor Diretor: Charlotte Wells  em Aftsersun
  • Melhor Ator: Paul Mescal em Aftersun
  • Melhor Atriz:  Cate Blanchett em Tár
  • Melhor Ator Coadjuvante: Anthony Hopkins em Armageddon Time
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Angela Bassett em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre
  • Melhor roteiro: The Fabelmans
  • Melhor montagem: Elvis
  • Melhor trilha sonora: All Quiet on the Western Front
  • Melhor Fotografia: Nope
  • Filmes mais superestimados: Everything Everywhere All At Once, Tár, RRR
  • Piores filmes do ano: Morbius, Blonde, White Noise

Os melhores filmes de 2021 – A lista

Dois mil e vinte um. Ano cinematográfico que vai até a noite dos prêmios Oscar e consigo carrega um ano – ainda – de pandemia (que ficou para trás?), da cena europeia e asiática fazendo frente comercial às produções cults norte americanas e de gratas surpresas como histórias medievais ou de western contadas de forma peculiar, que se por um lado incomoda por fugir de padrões outrora estabelecidos, por outro nos faz lembrar que cinema é arte e arte pode ser sim uma vertente de água cristalina que não tem fim.

Os meus filmes preferidos de 2021 são estes:

10 – Pig, de Michael Sarnoski

9 – Summer of Soul (…ou, Quando a Revolução Não Pôde Ser Televisionada), de Questlove

8 – Noite Passada em Soho (Last Night in Soho), de Edgar Wright

7 – Drive My Car, de Ryusuke Hamaguchi

6 – A Filha Perdida (The lost Daughter), de Maggie Gyllenhaal

5 – Ataque dos Cães (The Power of the Dog), de Jane Campion

4 – Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson

3 – A Pior Pessoa do Mundo (The Worst Person in the World), de Joachim Trier

2 – A Ilha de Bergman (Bergman Island), de Mia Hansen-Løve

1 – The Green Knight, de David Lowery

Um resumo dos melhores:

  • Melhor Filme: The Green Knight
  • Melhor Diretor: David Lowery em The Green Knight
  • Melhor Ator: Benedict Cumberbatch em Ataque dos Cães
  • Melhor Atriz:  Renate Reinsve em A Pior Pessoa do Mundo
  • Melhor Ator Coadjuvante: Troy Kotsur em No Ritmo do Coração
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Jessie Buckley em A filha perdida
  • Melhor roteiro: A Ilha de Bergman
  • Melhor montagem: Licorice Pizza
  • Melhor trilha sonora: Ataque dos Cães
  • Melhor Fotografia: Ataque dos Cães
  • Filmes mais superestimados: No Ritmo Do Coração; Não Olhe para Cima; Amor, Sublime Amor
  • Piores filmes do ano: Annette, Um Príncipe em Nova York 2

Os (meus) melhores filmes de 2020

Pelos motivos errados – a pandemia – chegamos ao ano em que a briga entre cinema x serviços de streaming perdeu força e nunca houve tanta oferta de bons filmes nos catálogos digitais como em 2020. Na tarefa de ver “o copo meio cheio” no caos que imperou globalmente e balançou crenças e convicções, toda a arte foi importante. Encontramos no cinema, em meio a isso, movimentos de retratar histórias que buscam dar voz contundentemente a minorias ou parcelas da sociedade antes não ouvidas apropriadamente, como as empreitadas de Regina King em Uma Noite em Miami ou da série de 5 filmes Small Axe de Steve McQueen, as duas brilhantes abordagens da opressão sexual em Bela Vingança ou A Assistente.

Além disso, a onda global cinematográfica (marcada como uma fase “pós Parasita”) nos aproxima de grandes filmes, da Dinamarca a Coréia do Sul, da Rússia a Romênia. Mas esta visão de arte cinematográfica é ainda muito primária; bom mesmo é assistir um filme que independe da temática, país de origem ou formato e encontrar algo mais nele, uma ideia e forma que repousa na memória muito além do seu final. E estes são os 20 de 2020 que mais me encantaram:

20 – Nunca, Raramente, Às vezes, Sempre (Never Rarely Sometimes Always), de Eliza Hittman (disponível no Telecine Play)

19 –  Bela Vingança (Promising Young Woman), de Emerald Fennell

18 – First Cow, de Kelly Richardson

17 – Colectiv – É Tudo Verdade (Collective), de Alexander Nanau (disponível nas plataformas HBO)

16 – A Assistente (The Assistant), de Kitty Green (disponível na Amazon Prime)

15 – Borat Subsequent Moviefilm, de Jason Woliner (disponível na Amazon Prime)

14 –  Má Educação (Bad Education), de Cory Finley (disponível nos serviços HBO)

13 –  Uma Mulher Alta (Beanpole), de Kantemir Balagov (disponível no Mubi)

12 –  Minari, de Lee Isaac Chung

11 –  Uma Noite em Miami (One Night in Miami…), de Regina King (disponível na Amazon Prime)

10 –  The Forty-Year-Old Version, de Radha Blank (disponível na Netflix)

9 –  Nomadland – Sobreviver na América, de Chloe Zhao

8 –  A Mulher que Fugiu (The Woman Who Ran), de Sang-Soo Hong (disponível no Mubi)

7 –  Martin Eden, de Pietro Marcello (disponível no Mubi)

6 – Druk – Mais uma Rodada (Another Round), de Thomas Vinterberg (disponível no Now Net Streaming)

5 – Agente Duplo (The Mole Agent), de Maite Alberdi (disponível no Globoplay)“Vendido e divulgado em trailers e materiais promocionais de uma forma totalmente errada, felizmente chegou ao Oscar. Mais do que isso, é uma carta de amor a empatia e valorização da vida em uma das etapas mais esquecidas atualmente”.

4 – Time, de Garrett Bradley (disponível na Amazon Prime)“Desconcertante. A inquietude que provoca ao questionar certas verdades ou sensos comuns da nossa sociedade vai muito além do final do filme”.

3 – Small Axe: Lovers Rock, de Steve McQueen (em breve disponível na Amazon Prime)“Não fazia ideia do quanto precisava desse filme. Na sua simplicidade, uma versão mais pura de Dazed and Confused (Jovens, Loucos e Rebeldes) e nem por isso, menos impactante. Som e luz formam elemento central de uma história que cada um certamente já vivenciou a sua versão”.

2 – A Vastidão da Noite (The Vast of Night), de Andrew Patterson (disponível na Amazon Prime)“No limite da linha tênue entre nostalgia como recurso de roteiro x nostalgia como supérfluo para esconder furos, a Vastidão da Noite é completo, ficção que não se limita a um subgênero. Mais do que o sobrenatural, fala sobre uma época cujo olhar continua a ser fascinante”.

1 – Estou Pensando em Acabar com Tudo, de Charlie Kaufman (disponível na Netflix)“Metalinguístico. Pretensioso. Pseudointelectual. Para assistir com uma xícara de café. Digno de Kaufman. Mas, mesmo assim principalmente, um estudo de como nossa mente sempre é um terreno mais fértil, ágil e prolífico que nossas ações. Afinal, nós somos o que fazemos ou o que pensamos? ”

Um resumo dos melhores:

  • Melhor Filme: Estou Pensando em Acabar com Tudo
  • Melhor Diretor: Steve McQueen em Small Axe: Lovers Rock
  • Melhor Ator: Anthony Hopkins em  Meu Pai & Chadwick Boseman em A Voz Suprema do Blues
  • Melhor Atriz:  Vasilisa Perelygin em Uma Mulher Alta
  • Melhor Ator Coadjuvante: Leslie Odom Jr. em Uma Noite em Miami
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Ellen Burstyn em Pieces of a Woman
  • Melhor roteiro: Estou Pensando em Acabar com Tudo
  • Melhor montagem: Time
  • Melhor design de produção: Meu Pai (The Father)
  • Melhor trilha sonora: Small Axe: Lovers Rock
  • Melhor Fotografia: Nomadland
  • Filmes mais superestimados: Mank, Destacamento Blood, Os 7 de Chicago, O Tigre Branco, As Mortes de Dick Johnson
  • Piores filmes do ano: Tenet, A Festa de Formatura 

Aos filmes de 2020, salute!

Os melhores filmes de 2019 – A lista

O último ano da década trouxe nas produções do cinema uma dose maior que a costumeira de fórmulas e enredos bem conhecidos. Analisar 2019, sob essa visão, é se frustrar com falta de originalidade nas grandes produções. Numa década em que os blockbusters, em especial da Disney/Marvel, dominaram bilheterias, pareceu mais lógico e seguro aos realizadores manter fórmulas que já funcionaram. Adicionando um ou outro elemento novo e significativo vemos mais uma vez filmes sobre as Guerras Mundiais do século passado (1917, Uma Vida Oculta, Jojo Rabbit), máfia (O Irlandês), nostalgia dos anos 60 (Era uma vez em Hollywood), romances do século XIX (Adoráveis Mulheres). Por isso, que obras como a ficção sul coreana Parasita, altamente crítica e analítica à nossa sociedade atual ou um falso documentário sobre uma lenda musical se sobressaem e estão no topo da minha lista de preferidos. Além desses, peças de originalidade tais quais A Despedida (outro de origem asiática), História de Um Casamento, Joias Brutas, Um Lindo Dia Na Vizinhança ou Nós merecem igualmente destaque. Os meus favoritos de 2019 são:

  • Melhor Filme: Parasita 
  • Melhor Diretor: Bong Joon-Hoem Parasita
  • Melhor Ator: Joaquim Phoenix em Coringa
  • Melhor Atriz: Lupita Nyong’o em Nós 
  • Melhor Ator Coadjuvante: Al Pacino em O Irlandês
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Shuzhen Zhao em A Despedida
  • Melhor roteiro: Parasita
  • Melhor montagem: 1917
  • Melhor trilha sonora: Coringa 
  • Melhor Fotografia: 1917
  • Filme mais superestimado: O Escândalo
  • Piores filmes do ano: Tolkien, X Men: Fênix Negra

 

E o top15 do ano:

15 – Uma Vida Oculta, de Terrence Malick

14 – Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig

13 – Em trânsito, de Christian Petzold

12 – História de um casamento, de Noah Baumbach

11 – Joias Brutas, de Josh e Ben Safdie

10 – Um lindo dia na Vizinhança, de Marielle Heller

9 – Midsommar: O mal não espera a noite, de Ari Aster

8 – Nós, de Jordan Peele

7 – Dois Papas, de Fernando Meirelles

6 –Fora de série (Booksmart), de Olivia Wilde

5 – O Irlandês, de Martin Scorsese

4 – A Despedida (The Farewell), de Lulu Wang

3 – Era uma Vez em Hollywood, de Quentin Tarantino

2 – Rolling Thunder Revue, de Martin Scorsese

1 – Parasita, de Bong Joon-Ho

Os melhores filmes de 2018 – A lista

Com grandes diferenças em relação às premiações de cinema do ano (2018), em especial ao Oscar, que na sua 91ª edição neste domingo próximo encerra o ciclo das estatuetas dos filmes do último ano, minha lista concentra filme que privilegiam forma e desenvolvimento de conteúdo sobrepondo a temática em si. Assim, escapam dela filmes médios (Green Book ou Nasce uma Estrela) e filmes medíocres (Bohemian Rhapsody) alçados aos maiores prêmios apenas pela hiperxposição de cantores ou preocupação em fazer votantes pensarem que o racismo (e demais preconceitos) está vencido. Dito isso, exemplos de sensibilidade e cadências povoam os meus preferidos de 2018:

  • Melhor Filme: Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here)
  • Melhor Diretor: Lynne Ramsay em Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here)
  • Melhor Ator: Joaquim Phoenixem Você Nunca Esteve Realmente Aqui (You Were Never Really Here)
  • Melhor Atriz: Joanna Kulig em Guerra Fria (Cold War)
  • Melhor Ator Coadjuvante: Adam Driver em Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman)
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Emma Stone emA Favorita (The Favourite)
  • Melhor roteiro: The Tale (The Tale)
  • Melhor montagem: Vice (Vice)
  • Melhor trilha sonora: O Primeiro Homem (First Man)
  • Melhor Fotografia: Guerra Fria (Cold War)
  • Filme(s) mais superestimado(s): Green Book: O Guia, Bohemian Rhapsody
  • Piores filmes do ano: Mute

 

E o top15 do ano:

 

15 – Vice (Vice), de Adam McKay

14 – Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman), de Spike Lee

13 – Homem Aranha no Aranhaverso (Spider Man into the Spider-verse), de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman

12 – Missão Impossível Efeito Fallout (MI Fallout), de Christopher McQuarrie

11 – The Ballad of Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs), de Joel Coen e Ethan Coen

10 – Support the girls (Support the girls), Andrew Bujalski

9 – Eighth Grade (Eighth Grade), de Bo Burnham

8 – A Favorita (The Favourite), de Yorgos Lanthimos

7 – Roma (Roma), de Alfonso Cuaron

6 – First Reformed (First Reformed), de Paul Schrader

5 – Happy as Lazzaro (Lazzaro Felice), de Alice Rohrwacher

4 – The Tale (The tale), de Jennifer Fox

3 – Sorry to bother you (Sorry to bother you), de Boots Riley

2 – Guerra Fria (Cold War), de Pawel Pawlikowski

1 – Você nunca esteve realmente aqui (You were never really here), de Lynne Ramsay

 

Os melhores filmes de 2017 – A lista

 

No dia em que mais uma temporada do cinema se encerra com a 90a edição do Oscar – afirmação muito mais válida para o cinema norte americano, mas ainda assim extremamente relevante ao mundo – um balanço dos filmes de 2017 se faz necessário. Se, em 2016 a falta de diversidade (étnica, racial, social e de gênero) foi escancarada aos holofotes das principais premiações, um sopro de boas iniciativas fez de 2017 um ano com uma ligeira mudança nas apostas dos grandes estúdios (e, evidentemente, dos independentes mais ainda).

Ainda que corramos o risco de supervalorizar algumas obras ou atores apenas por uma questão de minorias – por exemplo,  a supervalorização das habilidades de Greta Gerwig como diretora – a minha lista de melhores do ano e também os indicados as premiações trazem bons exemplos de como a arte é – e deve ser – uma expressão contemporânea das características da nossa sociedade: do preconceito racial em Corra! a desigualdade econômica tão bem explorada em Projeto Flórida; da sensação de não pertencimento ao mundo e seu caos (Já não me sinto em casa nesse mundo) a diversidade sexual de uma forma lírica em Me Chame pelo Seu Nome.

Outro traço marcante dos filmes de 2017 foi o humor, que soube ser dosado nos filmes já citados no parágrafo anterior até nas mais psicológicas obras com Trama Fantasma (a incursão de Paul Thomas Anderson num universo à Hitchcock), as sutis ironias em A Forma D’Água ou de forma objetiva em Eu, Tonya. Além disso, a polarização de temas, muitas vezes dentro dos filmes, contribui para histórias com espaço para um grande número de fantásticas atuações de atores coadjuvantes, especialmente os homens.

Então, estes são os meus preferidos do ano:

  • Melhor Filme: Corra! (Get Out)
  • Melhor Diretor: Sean Baker em Projeto Flórida (The Florida Project)
  • Melhor Ator: Daniel Kaluuya em Corra! (Get Out)
  • Melhor Atriz: Vicky Krieps em Trama Fantasma (Phantom Thread)
  • Melhor Ator Coadjuvante: Jason Mitchell em Mudbound
  • Melhor Atriz Coadjuvante: Lauren Metcalf em Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird)
  • Melhor roteiro: Corra! (Get Out)
  • Melhor documentário: Ícaro (Icarus)
  • Melhor montagem: Dunkirk
  • Melhor Fotografia: Blade Runner 2049
  • Filme(s) mais superestimado(s): Três anúncios para um crime (Three Billboards outside Ebbing, Missouri), Lady Bird: A hora de Voar (Lady Bird)
  • Piores filmes do ano: It – A Coisa (It), Alien: Covenant;

 

E o top15 do ano de 2017:

 

15 –   A Ghost Story de David Lowery

14 – Ícaro (Icarus) de Bryan Fogel

13 – Detroit em rebelião (Detroit) de Kathryn Bigelow

12 – Doentes de Amor (The Big Sick) de Michael Showalter

11 – Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird) de Greta Gerwig

10 – Blade Runner 2049 de Dennis Villeneuve

9 – Logan de James Mangold

8 – A Forma d’água (The Shape of Water) de Guillermo Del Toro

7 – Me Chame Pelo Seu Nome (Call me by your name) de Luca Guadagnino

6 – Trama Fantasma (Phantom Thread) de Paul Thomas Anderson

5 – Eu, Tonya (I, Tonya) de Craig Gillespie

4 – Projeto Flórida (The Florida Project) de Sean Baker

3 – Bom Comportamento (Good Time) de Benny & Josh Safdie

2 – Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo (I don’t feel at home in this world anymore) de Macon Blair

1 – Corra! (Get Out) de Jordan Peele

A Forma da Água (2017) – Universal, atemporal

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Famigerada é a preferência e hábito do diretor Guillermo Del Toro em usar criaturas mágicas, não convencionais ou místicas fora de seu habitat, rodeadas por humanos. Independente da época da história são eles (humanos) em sua maioria, arrogantes, convencidos de sua superioridade e medrosos com o desconhecido. A Forma da Água (The Shape of Water), um dos favoritos aos prêmios da temporada é uma nova incursão do cineasta mexicano nesta temática e é, desde O Labirinto do Fauno, seu melhor trabalho.

Numa ambientação primordial dos primeiros anos da Guerra Fria – da guerra por conhecimento científico e militar entre Estados Unidos e União Soviética – com destaque a trilha sonora e principalmente ao melhor design de produção do ano, a criatura interpretada por Doug Jones encontra na personagem de Sally Hawkins a genuína expressão de bondade e solidão, combinação que resulta em amor, carnal e fraternal entre ambos.

Numa precipitada interpretação esta é uma sinopse comum a várias centenas de filmes; então, o que faz A Forma da Água se sobressair?  Os detalhes e a ironia, no passageiro com um bolo no ônibus, na forma como a rotina é filmada ou na recorrente gelatina verde; no roteiro de Del Toro que nos faz acreditar que a vida da personagem de Hawkins a conduziu para àquele momento e que ainda no meio disso fala de racismo e homofobia sutil e habilmente; e, claro, na atuação da protagonista, que sem dizer uma palavra converge em expressão e ações a transformação da timidez e solidão em aventura e felicidade. Uma história convencional no seu núcleo que se torna grande não pelos efeitos especiais ou por retratar amor a uma criatura marítima (afinal, a analogia óbvia é que deslocados da sociedade, todos podemos ser ela em algum momento da vida) mas sim pela habilidade em falar de temas simples e universais.

I, Tonya (2017) – Não pesquise, assista !

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Saber o mínimo possível de um filme antes de assisti-lo é o estilo de espectador em que eu me enquadro. Se vale a pena evitar ler notícias a respeito ou assistir trailers antes do filme em si? Normalmente, sim. Mas em “I, Tonya” a condição é ainda superada e obtive uma das mais fantásticas experiências cinematográficas graças a isso.

Sabendo apenas que se trata um filme que está no radar das premiações desta temporada 2017/2018 e com uma provável indicação a melhor atriz para Margot Robbie no Oscar – além de chances reais de vitória – e que o enredo é centrado na história de uma patinadora no gelo chamada Tonya Harding,  em praticamente 2 horas o filme brinca com este desconhecimento te deixando por vezes na certeza de que se trata de uma história real, mas na maior parte do filme racionalizando de que tudo faz parte de um grande roteiro de ficção com os mesmos atores dos personagens se passando pelas pessoas reais, numa livre a associação aos “falsos documentários”, como na série The Office. Ao final do filme, graças a uma brilhante edição ágil, conhecemos a verdade (assista ou procure em outro review pois não comentarei se é uma história real ou não).

Além disso, emoldurada sob a face de um drama de competição esportiva de alto nível (com espaço para as Olímpiadas) e todas as consequências de um ambiente competitivo, aos poucos o filme ganha seus contornos de comédia e certo humor negro, graças aos atores coadjuvantes e seus histórias surreais (destaque para o personagem Shawn de Paul Walter Hauser) e a leveza da atuação de Margot Robbie e simplicidade das suas falas. Assim, inevitável é a comparação com uma história dos irmãos Coen (Irmão, Cadê Você? ou Fargo) e precisas são as abordagens de uma realidade preconceituosa dos chamados whitetrashs nos EUA (neste caso, do estado do Oregon).

Sem revelar muito mais do filme, é notório que uma comédia – ainda mais como esta – inicialmente não tenha o mesmo apreço como um drama complexo e profundo, mas tenho a certeza que com o passar dos anos será inevitável não relaciona-la em qualquer lista dos melhores filmes de 2017 (a exemplo da maior parte dos filmes dos Coen ou do mais recente A Grande Aposta). Assistir um filme sem saber nada dele, aceita o desafio? Se a resposta for sim, I, Tonya é o melhor ponto de partida.

O Sal da Terra (2014)

Se uma boa redação precisa de um excelente título, um bom filme também começa a ter sua qualidade apreciada já no título. Quando o título de um filme resume com excepcional habilidade as suas ideias centrais é um belo indício que, ao menos, ele tem coesão. E esta qualidade é uma das predominantes em O Sal da Terra, documentário de 2014 que apresenta a vida do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado através da sua obra.

Dirigido e produzido pelo cineasta alemão Wim Wenders em parceria com Juliano Salgado (filho de Sebastião), O Sal da Terra é um documentário (acertadamente indicado ao Oscar) que une as várias fases da carreira do famigerado protagonista através desta simples mas brilhante constatação: o que faz diferença para o mundo (o sal ou “tempero” dele) são – sempre foram e serão – as pessoas. Essa constatação, embora de uma obviedade gigante, através da utilização das fotos, resultado uma vida de expedições pela América Latina, Leste Europeu e África, entre outros, culmina na visualização das experiências do fotógrafo e vai além do que meros relatos escritos sobre a natureza humana nos 4 cantos da terra poderiam produzir.

Enquanto você lê este texto é perfeitamente provável que no planeta, por exemplo, existem pessoas experimentando suas maiores felicidades ou tristezas da vida, desempenhando rotinas ou hábitos que nunca vimos ou soubemos, ou com preocupações que para você (ou eu) não fazem sentido. Por mais polarizados e distintos que sejam nossos hábitos e locais por onde passamos, a vida ordinariamente nos limita a realidade que nos cerca (afinal, recursos como o tempo são finitos e a imprevisibilidade da raça humana, não), e com isso acabamos tendo a noção e percepção mais viva somente daquilo que faz parte da nossa realidade. São experiências como as de Salgado em O Sal da Terra, documentadas através da fotografia preto-e-branco, imparciais e impessoais, que servem de combustível para mostrar que o mundo sempre é maior do que o imaginávamos no instante anterior (apenas isto, sem o mérito de ser melhor ou pior, e toda a subjetividade carregada neste tipo de análise) .

(Melhor e mais prudente do que falar especificamente das obras de Sebastião Salgado é observá-las e, por isso, algumas estão na sequência abaixo neste post).

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