Um limite entre nós (Fences, 2016) – O grande teatro de Denzel Washington

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Ao contrário do que o título deste post pode sugerir, Um Limite Entre Nós (título original Fences) não é um filme de baixa qualidade. A caracterização desta obra me lembra outras adaptações cinematográficas de roteiros focados nos diálogos acima de tudo, tais como a obra prima de 2008 intitulada Dúvida (Doubt). Neste filme de 2016, e concorrente a muitas estatuetas do Oscar – incluindo a de melhor filme, Denzel Washington além de ser protagonista é o diretor e mente criativa da obra. Interpretando um trabalhador da companhia do lixo nos EUA pós Segunda Guerra Mundial ele faz par com a personagem de Viola Davis, sua esposa.

Em menos de 5 minutos de filme temos a certeza que a atuação de Denzel merece, no mínimo, uma indicação a melhor ator. Com naturalidade e desenvoltura de um ator extra classe ele mostra carisma a amabilidade invejáveis, que fazem o espectador querer conhecer melhor Troy Maxson, seu personagem. Aí a trajetória do filme começa a se justificar de uma forma muito inteligente. Ao longo do filme descobrimos que por trás do Denzel Washington das primeiras cenas temos um homem abandonado pela mãe e com pai abusivo, amargurado por não ter mais êxito profissional, com nostalgia da época em que era um destaque do baseball e lutando contra sua vida boêmia e infiel no matrimônio. Conforme essa caracterização vai se delineando o outro ponto forte do filme, Viola Davis, começa a aparecer e tal qual seu par em cena, a clamar por atenção. Inicialmente de aparência submissa, vemos que a força de vontade para permanecer naquele casamento, amando ao seu marido é gigante, assim como a atuação.

Enquanto Denzel entrega ao público uma de suas melhores interpretações da sua carreira, como diretor ele prefere delinear bem os limites da cenografia, as posições de cada ator no set e deixar que as atuações conduzam o resto. Praticamente o filme inteiro se concentra entre o cenário da sala de estar, cozinha e área de fundos da residência do casal. Por isso e pelos longos, mas belíssimos monólogos, temos a estrutura teatral da obra, digna de uma grande peça. Mas não está na técnica de cenografia ou atuações o mérito do filme. Elas são parte de um propósito maior e relativamente bem sucedido: humanizar a complexidade das ações do ser humano. O comportamento moral idealizado não existe e, atrás de cada sorriso ou traição sempre há uma história.

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